+351 218 313 140 / +351 935 015 045 (24H) WhatsApp geral@romandrade.pt

Jorge Costa Oliveira | Membro do Conselho Estratégico da CCPC-PME – Câmara de Comércio Portugal-China para PMEs

A criação de uma Câmara de Comércio Portugal-China para PMEs é precisamente para apoiar a larga maioria das empresas portuguesas sobre como ter acesso ao mercado chinês.

Em termos globais, a China é um dos mercados com maior potencial; em termos de produção económica, é o principal “motor” da economia mundial, com uma economia com uma fortíssima base industrial virada para a exportação, com um crescimento elevado, sustentado e contínuo; em termos de comércio internacional, a China é hoje um mercado incontornável, sendo globalmente o 1.º país exportador e o 2.º importador; enquanto mercado, é hoje o principal ou um dos principais importadores de muitos produtos, desde matérias primas até componentes do processo industrial, bens de capital, tecnologia ou serviços.

Mesmo em termos de turismo, a China cresce significativamente enquanto país emissor de turistas; em 2030, o número de turistas chineses viajando para países estrangeiros deverá atingir os 259 milhões, tornando-se o maior mercado emitente (fonte: Euromonitor Internacional). Abordaremos este potencial em artigo específico.

É também um dos principais protagonistas internacionais no que tange aos fluxos de investimento direto estrangeiro mas sobre isso debruçar-nos-emos também noutro artigo.

Nos tempos mais recentes, no que tange às trocas comerciais entre a China e Portugal, não obstante um aumento desde 2011, os valores ainda são baixos. Em 2019 o valor das exportações de bens e serviços de Portugal para a China foi de 602,8 M€ em bens e 356,5 M€ em serviços; o valor das importações por Portugal de bens e serviços provenientes da China foi de 2.952,8 M€ em bens e 426 M€ em serviços (fonte: INE & Pordata). Em 2017, apesar de a China ter sido o principal fornecedor Extra-UE de bens a Portugal (6.º na globalidade dos países), isso correspondia apenas a 3% das importações portuguesas e a 0,15% das exportações chinesas. Inversamente, a relevância das exportações de bens portugueses para a China é muito diminuta; em 2016 Portugal foi o 56º cliente da China, com uma quota de 0,19%, e o 66º fornecedor das importações chinesas, com um valor percentual de 0,1% (fonte: AICEP).

É importante ter presente que o mercado português será sempre um pequeno mercado para a generalidade das empresas chinesas enquanto que o mercado chinês será sempre um grande mercado com enorme potencial para as empresas portuguesas. E é por isso que vale a pena explorar este potencial.

Todavia, os valores das trocas comerciais entre os dois países são baixos, pelo que há muito espaço para incrementar essas relações. Em bom rigor, é necessário um novo impulso nas relações comerciais entre Portugal e a China. Vamos abordar de seguida o que pode ser feito para criar esse novo impulso nas relações comerciais entre os dois países.

Vamos proceder a uma abordagem comparativa relativamente às duas formas possíveis de exportar para a China: (i) de forma “tradicional”; e (ii) através de marketplaces online.

abordagem tradicional, i.e., a exportação “normal” de bens ou serviços não decorrentes de venda em plataformas de vendas ou marketplaces online.

Primeiro, é importante começar pela perceção da China como mercado. Um dos maiores erros é percecionar a China como um mercado único; há várias segmentações e mercados nesse enorme país-continente. O critério mais útil é olhar para o mercado urbano. A China Urbana compreende em 2020 875 milhões de pessoas (c. 61% da população total) com uma crescente taxa de concentração urbana (em 2000 apenas 35,7% da população vivia em cidades; até 2030 deverá atingir os 1000 milhões de pessoas). Embora haja processos diversos de penetração no mercado chinês, o mais pragmático é encarar a China como vários mercados com uma enorme dimensão  – o que levanta problemas de escala à larga maioria das empresas portuguesas –  com distribuidores e clientes a nível regional. Que nível regional considerar? Exceção feita às vendas em marketplaces online  (que abordaremos de seguida), propomos que se pondere a entrada no mercado chinês tendo como foco as 3 principais áreas mega-metropolitanas ou megalópolis  (em inglês “supercity clusters”, em chinês 城市群):

  • A Área da Grande Baía do Delta do Rio das Pérolas (PRD / GBA)  compreendendo 9 cidades + 2 RAEs em torno do triângulo Macau-Hong Kong/Shenzhen-Guangzhou, com (dados de 2018): uma área total de c. 56 000 Km2, uma população de 70 milhões de habitantes, um PIB global de US$ 1,6 biliões e um PIB per capita de US$ 23.000;
  • A Área do Delta do Yangtzé (YRD)  uma zona gigantesca correspondendo à zona mega-metropolitana de Xangai e 26 cidades vizinhas – essencialmente nas províncias de Zhejiang e de Jiangsu (Ningbo, Hangzhou, Nanjing, Wuxi, Suzhou e outras) – com (dados de 2018): uma área total de c. 219 000 Km2, uma população de 128 milhões de habitantes, um PIB global de US$ 2,6 biliões e um PIB per capita de US$ 20.000;
  • A Área de Beijing-Tianjin-Hebei (Jing-Jin-Ji)  compreendendo 11 cidades – Beijing, Tianjin e 9 cidades da província de Hebei –, com (dados de 2018): uma área total de c. 217 000 Km2, uma população de 112 milhões de habitantes, um PIB global de US$ 1,3 biliões e um PIB per capita de US$ 11.000.

Sem prejuízo de se aproveitarem outras oportunidades, nomeadamente noutras megalópolis (há 19), é nestas três acima referidas – GBA, YRD, Jing-Jin-Ji – que existem, presentemente e no devir próximo, melhores condições para empresas portuguesas fazerem negócio. Em qualquer caso, raras serão as empresas portuguesas que terão escala para cobrir todas estas 3 megalópolis.

Segundo. Outra oportunidade de entrada na China são as zonas francas  (FTZs), que apresentam um ambiente de negócios mais liberalizado e articulado do que em outras partes do país (funcionam numa lógica de “one-stop shop” quanto às entidades públicas que intervêm no processo de entrada de mercadorias na China), em especial quando articuladas com as megalópolis referidas; a GBA tem as FTZs de Guangdong, o YRD tem as FTZ de Xangai ZhejiangJing-Jin-Ji tem a FTZ de Tianjin.

Terceiro. Dito isto, cada caso é um caso e todas as oportunidades devem ser aproveitadas. Por exemplo, uma das principais cervejeiras portuguesas encontrou um distribuidor com boa rede na província de Fujian. Utilizou-o e teve sucesso. Daí passou para a província de Zhejiang. Onde também está a vender bem. Outro exemplo interessante são empresas portuguesas do agroalimentar que estão a vender numa rede de supermercados na China que só vende produtos estrangeiros. Esta rede ainda é pequena mas está em crescimento. É um bom exemplo de aproveitamento de um mecanismo com potencial.

In Supply Chain

 

Ler mais PDF >